POR QUE O CORONA É MAIS PROBLEMÁTICO DO QUE A QUEBRA DO BANCO LEHMAN BROTHERS

O surto do novo coronavírus causou um impacto negativo na economia global. As infecções por coronavírus estão aumentando rapidamente na Europa e nos Estados Unidos, onde a propagação da infecção não foi observada inicialmente e, de acordo com um site especial em tempo real criado pela Universidade Johns Hopkins, o número de pessoas infectadas no mundo tinha excedido 156.000 no dia 16 de março.

Das 130.000 pessoas que foram encontradas infectadas, cerca de 4.000 morreram, a maioria em Wuhan, na China, onde foi o início da crise. No caso da China, o acesso aos cuidados médicos ainda é ruim nas cidades locais, e muitos casos parecem ter agravado quando tomaram conhecimento. Em outras palavras, é provável que o novo coronavírus é totalmente curável se medidas apropriadas forem tomadas.

Além disso, as medidas preventivas contra o novo coronavírus, assim como a gripe tradicional, são ortodoxas, como a lavagem cuidadosa das mãos. Se você se cuidar adequadamente, não há o que temer. Mas vendo as últimas infecções que se espalharam pelo mundo, é possível ver que os países estão demorando para tomarem medidas.

ECONOMIA ITALIANA QUEBRA DEVIDO AO BLOQUEIO TOTAL DO PAÍS

No caso da Itália, o número de pessoas infectadas já ultrapassou 10.000 e mais de 600 pessoas já morreram. O líder do Partido Democrata, Zingaretti, foi infectado com o novo coronavírus, mas felizmente sua condição é estável e ele está se recuperando em casa.

Em 8 de março, o governo italiano bloqueou 14 províncias, incluindo a Lombardia, a cidade comercial de Milão, e Veneza, uma cidade turística mundialmente famosa, como uma medida para conter o coronavírus. No dia 10, o governo decidiu expandir o bloqueio para toda a Itália. Atividades com grande concentração de pessoas têm sido limitadas e estabelecimentos de cultura, como cinemas, teatros e casas de festa têm permanecido fechados. Da mesma forma, diversos museus têm restringido o número de visitantes.

Reconhecendo a gravidade da crise, o governo vai destinar 28.3 bilhões de dólares para aliviar o impacto econômico.

A CRISE ECONÔMICA ESTÁ RESTRINGINDO O FLUXO DE PESSOAS E BENS

Algumas pessoas podem comparar os efeitos adversos do novo coronavírus na economia com a crise financeira global associada a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008, mas aquela crise ocorreu porque o dinheiro não circulava. No entanto, dessa vez, como mostra a Itália, a crise está ocorrendo porque as pessoas e os bens não estão circulando.

Portanto, mesmo que o dinheiro passe a circular por meio de flexibilização monetária e expansão fiscal, é improvável que a economia volte ao normal a menos que pessoas e bens passem a circular. Era natural que mesmo que o banco central dos EUA reduzisse a taxa de juros em 0,5% em março e reforçasse a flexibilização monetária, a economia não se recuperasse.

Ao administrar uma crise como uma pandemia de um novo coronavírus, é inevitável restringir o fluxo de pessoas e bens em certa medida. No entanto, nada vai adiantar se a economia entrar em colapso. É necessário girar a economia levando em consideração a presença do coronavírus.

O mais importante é fornecer informações corretas. Assim como o papel higiênico foi alvo de compras em massa no Japão, o macarrão foi alvo na Alemanha. As pessoas, quando são confrontadas por uma situação de emergência, tendem a ser influenciadas por qualquer tipo informação. Governos, empresas e mídia precisam trabalhar para fornecer as informações corretas e atenuar a ansiedade da população.

É NECESSÁRIA UMA ANÁLISE COMPLETA

Como a situação muda todos os dias, é necessário analisar o quanto as medidas do governo como o fechamento de escolas e as restrições de movimento nas fronteiras, afetarão a economia.

Os eventos em locais fechados foram cancelados, mas talvez os eventos em locais abertos possam ser mantidos. É algo que merece uma análise. O mesmo pode ser dito das instalações turísticas. Impor uma lei de restrição, afetará as pessoas e consequentemente a economia.

CONDIÇÕES PARA PARAR A QUEDA DAS AÇÕES E A VALORIZAÇÃO DO IENE

A atual queda global das ações e a valorização do iene refletem a incerteza sobre a estagnação econômica mundial. Por outro lado, isso quer dizer que a queda das ações e a valorização do iene vão parar quando a economia mundial começar a girar novamente. Pode ser necessário revisar a restrição excessiva de circulação e liberar a economia para acalmar a turbulência no mercado financeiro.

É difícil equilibrar aspectos médicos e econômicos, mas, se não focarmos nesse último, o nosso cotidiano ficará comprometido. O atual surto de coronavírus deve servir de lição de como prevenir futuras doenças infecciosas em escala global em termos de benefícios e custos.

A livre circulação de pessoas e dinheiro é indispensável para o crescimento sustentável da economia mundial. Mesmo que seja declarada pandemia de uma doença infecciosa, é impossível conter completamente o seu fluxo. A epidemia do novo coronavírus acabará eventualmente e a economia voltará ao normal.

Colunista

Denis Kei Kimura

Nascido no Brasil. Atualmente, atua como designer gráfico e tradutor no Japão.