2020
25
Mar

PolíticaSaúde

CORONAVÍRUS E OS DEKASSEGUIS BRASILEIROS

CORONAVÍRUS E OS DEKASSEGUIS BRASILEIROS

 

O Coronavírus está deixando a saúde da humanidade e a economia mundial de cabeça para baixo. O jornal International Press entrevistou 4 brasileiros de diferentes segmentos da comunidade dekassegui no Japão, hoje com aproximadamente 207 mil cidadãos, a 5ª em número depois da China, Coreia, Filipinas e Vietnã, para tentar desvendar, em poucas palavras, o que eles pensam e sentem a respeito dessa doença.

 

EMPREITEIRA

 

Marcos Matsuda (55), natural de Jaguapitã, Paraná, diretor da Empreiteira Nexus que atua há mais de 10 anos nas regiões de Kanto e Tohoku, engenheiro civil e há mais de 30 anos no Japão. Sua empreiteira tinha até outubro passado aproximadamente 300 estrangeiros (90% de brasileiros), fabricando componentes e peças para Subaru, Toyota, Nissan, Mazda, Honda, etc. Hoje está com um pouco menos. Ele afirma que o futuro do emprego neste país é incerto. Porém, que o Japão está se saindo melhor do que os países europeus no combate à doença, eis que sempre cuidou melhor da higiene pessoal e da limpeza, do que os demais países do mundo. Cumprimentam-se à distância  mantendo em média um metro ou mais entre eles. Não é da sua cultura as pessoas se tocarem, nem entre os casais. Já os italianos, franceses, espanhóis, brasileiros, além de darem as mãos ao se cumprimentas, trocam beijinhos nos rostos. E mantêm muitos contatos físicos no dia a dia.

Quanto à crise econômica acredita que ela será inevitável. Assevera que ainda não houve cortes de trabalhadores nas fábricas que os empregam, o que poderá acontecer nos próximos meses, com o início do novo ano fiscal no país.

Mas, segundo Matsuda, o Japão sairá desta triste crise. Desde que o país foi destroçado com 2 bombas atômicas na Segunda Guerra Mundial, ele sempre soube dar a volta por cima. O japonês é abnegado e trabalha muito nos momentos difíceis. Confia no seu governo que sempre tem planos econômicos para ajudar a sair das crises. Os brasileiros daqui deverão economizar e evitar os supérfluos. Ter paciência, pois o Brasil está pior.

O futuro é incerto, mas o Japão se sairá bem desta crise.

 

ESCOLA BRASILEIRA

 

Cláudia Amano (44), diretora da escola brasileira Gente Miúda em Oizumi, Gunma, diz que já deu uma semana de folga para os 160 alunos desse estabelecimento de ensino. Na semana seguinte voltaram às aulas só os alunos do Maternal e do Jardim de Infância. Mais por insistência dos pais, que não tinham onde deixar as crianças quando iam trabalhar nas fábricas. Os alunos do Ensino Fundamental e Médio deverão voltar na próxima semana. Porém, há resistência de alguns pais em mandá-los de volta às salas de aulas. A preocupação é compreensível: a metade das escolas e faculdades do mundo estão fechadas por prevenção ao vírus.

Cláudia diz que os alunos levaram atividades didáticas para estudar em casa. Mas, a sua preocupação é que vão ter que recuperar as aulas perdidas, o que os sobrecarregarão quando terminar esta crise. Nas salas de aula todos devem usar máscaras. Há certa dificuldade para os alunos do Maternal. Entretanto, o problema é solucionado com muita limpeza e higiene: lavar as mãos diversas vezes por dia, álcool nas salas de aulas que sempre estão arejadas. O contato entre eles é evitado ao máximo. Os talheres, pratos, e outros itens são bem lavados e desinfetados. As carteiras, cadeiras, outros materiais didáticos, os sanitários, são sempre limpos com álcool e desinfetantes.

Lavar as mãos diversas vezes por dia, e álcool nas salas de aulas.

 

LOJA DE PRODUTOS BRASILEIROS

 

MARLI KUROKI AIHARA (56) é proprietária da loja de produtos brasileiros Canta Galo, em Oizumi, Gunma. Com a irmã MIRIAM YUMI KUROKI (52), ela administra este estabelecimento, próximo à estação de trens há 11 anos. Para cada dez habitantes da cidade, um é brasileiro. E junto com a cidade vizinha de Ota, fabricava aviões de guerra no último conflito mundial. Esta fábrica agora se tornou a Subaru, montadora de carros.

Marli não nota diferença no movimento da loja com a vinda do coronavírus. Afirma que alguns fregueses têm comprado arroz, feijão e enlatados. Mas, são poucos e não parecem que estão estocando alimentos. Nota preocupada que apesar de sua loja estar sempre limpa e desinfetada, há fregueses que trazem filhos crianças, correndo risco de contágio do vírus, pois não usam máscaras. E tocam nas embalagens de alimentos e gôndolas, sem nenhum cuidado. Diz que os pais deveriam deixá-las em casa e vir fazer compras sozinhos.

Já em relação aos japoneses afirma que são muito precavidos: usam máscaras e álcool, gargarejam com antissépticos. E, tomam banho quente de ofurô, desde antes da vinda do vírus. No seu ponto de vista é o motivo pelo qual o Japão, que teve suas primeiras vítimas antes do que a Itália, tem menos contágios e mortes do que os italianos.

Os pais deveriam vir à loja sozinhos, sem os filhos.

 

O DEKASSEGUI BRASILEIRO

 

BRENO LIUITI KANACHIRO (31) está no Japão há 9 anos. No Brasil trabalhava na barraca de pastéis com a sua família em São Paulo. Trancou a matrícula no 2º ano da Faculdade de Agronomia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) quando veio trabalhar 6 meses no Japão para juntar dinheiro e terminar os estudos. Nunca mais voltou a pisar àquela faculdade. Em 2015 foi buscar a namorada com quem se casou e agora está no Japão. Hoje tem um filho de 4 anos.

Está trabalhando em Toyohashi, Aichi, numa fábrica de montagem de bancos de carros, no sistema 2 turnos (nikotai). Mesmo com a crise do coronavírus só as horas extras diminuíram, mas acha isso normal porque em abril começa o novo ano fiscal no país.

Preocupado com o avanço do vírus estocou alguns alimentos, produtos de higiene do lar. Está gastando menos, principalmente com cartões de crédito. Parou de comer fora e cortou os encontros com os amigos nos finais de semana. Pensa em vender um dos 2 carros: o “kei” de sua esposa. Sempre usa máscara, assim como a família. Estocou carne congelada porque lembrou de seu pai que fez o mesmo na crise de carne bovina na época do Sarney. Foi o único pasteleiro na feira que tinha pastéis de carne, e cobrando 50% mais caro. Seu conselho para os brasileiros no Japão: economizar o máximo e aguentar firme. O futuro é incerto e haverá crise de emprego. Muitos não terão como pagar as suas contas e passarão dificuldade até para se alimentar.

Muitos não terão como pagar as suas contas.

 

Colunista

Mario Tokairin

 
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