2020
16
Apr

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É BOM TRABALHAR COMO MOTORISTA NO JAPÃO ?

É BOM TRABALHAR COMO MOTORISTA NO JAPÃO ?

 

A brasileira S.S., que prefere não se identificar, de 55 anos de idade, residindo há mais de 30 anos no Japão, trabalhou inicialmente com o seu marido nas fábricas. Porém, há 7 anos começou a profissão de motorista, transportando alunos de uma escola brasileira. Há 3 anos se tornou motorista de uma “wagon” e agora transporta trabalhadores brasileiros e peruanos de uma empreiteira, para uma fábrica de doces, em Tochigi-ken. Prefere dirigir carros, mesmo ganhando menos, do que trabalhar numa fábrica. Lá ficava 8 ou mais horas por dia de pé, fazendo o mesmo trabalho repetitivo durante todo esse tempo. Nunca sofreu acidente grave e diz que é melhor dirigir no Japão do que no Brasil. Afirma que os motoristas japoneses são mais cuidadosos e sempre sinalizam antes de cada movimento enquanto dirigem. Diz que se sente mais segura do que quando dirigia no Brasil, onde o trânsito é mais perigoso. Não pretende largar a função de motorista tão cedo, salvo se houver algo muito grave que a faça mudar de ideia.  

Antônio Shikota, conhecido como “Toninho” em Oizumi-machi, Gunma-ken, de 57 anos de idade, residindo há aproximadamente 30 anos no Japão, também prefere dirigir aqui do que no Brasil. “É mais seguro e os japoneses, em geral, são mais respeitosos às normas de trânsito”, afirma. Apenas acha que uns exageram quando vão, por exemplo, virar para à esquerda e “abrem” demais para o lado direito. Hoje trabalha só de noite como motorista de caminhão com carteira de motorista chuugata, com mais de 10 toneladas. É para uma empresa de transportes de cargas terceirizada para uma outra empresa, de takyubin. Já teve um caminhão próprio e vendia produtos brasileiros de porta em porta. Depois que teve um grave acidente com um outro caminhão num semáforo, quando houve a perda total do veículo, começou a trabalhar como empregado. Ganha entre ¥300 mil e ¥350 mil, mas está satisfeito com o trabalho que exerce.

Hoje com a nova Lei de Tráfego em Rodovias Japonesa de 2017, uma nova categoria de licença para dirigir caminhões de porte semi médio foi criada, com pesos entre 3,5 e 7.5 toneladas. Essa categoria se chama jun chuugata jidousha menkyou (準中型自動車免許) e inclui veículos para passageiros e cargas. Para criar espaço para uma nova categoria de caminhão, o limite máximo para caminhões regulares foi reduzido de 5 para 3,5 toneladas, e o limite mínimo para caminhões de porte médio foi elevado de 5 para 7,5 toneladas.

Esse novo tipo de carteira de habilitação foi criado a pedido da indústria de caminhões deste país que queria mais motoristas jovens em meio à escassez e envelhecimento da força de trabalho japonesa.

É a categoria que está trazendo estrangeiros no Japão a adotar a profissão de motorista.

ESTATÍSTICAS DE TRÂNSITO:  JAPÃO X BRASIL

 

Segundo a estatística Nation Master, edição de outubro do ano passado, no Japão em cada mil habitantes, 591 pessoas têm veículos automotores. No Brasil, nesse mesmo número de mil habitantes, 259 têm veículos automotores. Ou seja, por habitantes, o Japão têm mais do que o dobro de veículos motorizados do que o Brasil, apesar de ser 23 vezes menor em tamanho.

Também, pela Agência Nacional da Polícia do Japão, morreram 3.215 pessoas em 2019, no trânsito do país. Uma redução de 317 em relação ao ano de 2018. As mortes por acidentes de trânsito caíram pelo 4º ano consecutivo. E mais da metade das vítimas (1.782) tinham mais de 65 anos de idade.

No Brasil, conforme a informação do Ministério dos Transportes, em 2017 morreram no país 34.236 pessoas, vítimas de acidentes de trânsito. Ou seja, mais de 10 vezes do que o Japão. A cada hora morreram 5 brasileiros vítimas de acidentes em trânsito ou por atropelamentos. Os dados não são recentes porque o processo de óbito no Brasil, conforme o Conselho Federal de Medicina, é demorado, levando até dois anos para contabilizar todos os casos. Mas, a cada hora, 20 pessoas dão entrada em um hospital da rede pública de saúde por motivos de acidentes de trânsito ou atropelamentos. Aqui não estão incluídos os que vão para os hospitais particulares, sem convênio com a rede pública de saúde.   

Nos últimos 10 anos, 1.636.878 brasileros foram vítimas do trânsito. Só de motociclistas morreram em 2017 mais de 11 mil.

OPINIÃO DA INSTRUTORA BRASILEIRA DE AUTOESCOLA NO JAPÃO

 

Eiko Sakugawa, professora brasileira numa autoescola no Japão, na região de Kanto, há mais de 20 anos, diz que se o motorista seguir corretamente as regras de trânsito no país (交通の教則), pode parecer exagero, mas que são até melhores do que os motoristas japoneses. Sua escola aprova 100% dos alunos que vão fazer exame de motorista no menkyo center (運転免許センター) e afirma que o motorista brasileiro que vem com vícios de má condução do Brasil, deve reaprender a dirigir neste país.

Um dos grandes erros dos motoristas brasileiros no Japão é estacionar em qualquer lugar. Mães que levam e pegam filhos nas escolas estacionam na frente das mesmas e nem ligam as setas de atenção. Quando encontram com outras mães, ficam conversando e acabam atrapalhando a passagens para outros carros.

Outros erros é, nas placas “pare” (止まる) não parar o carro até as suas rodas paralisar completamente. Apenas diminui a velocidade e olham só para um d­­­os lados.

Ultimamente os brasileiros deixaram de ser os piores motoristas do país. É que estão vindo estrangeiros de países como Nepal, Índia, Tailândia, Camboja, China, etc. Estes desrespeitam com maior intensidade as normas de trânsito japonês, já que alguns dirigem até sem habilitação.

NORMAS E REGULAMENTOS BÁSICOS PARA MOTORISTAS NO JAPÃO

  1. Motoristas, sem carteira de habilitação, ou que ingeriram bebidas alcoólicas não podem dirigir.
  2. Respeitar as leis der trânsito, semáforos, placas e sinalização de trânsito
  3. No carro, todos os ocupantes devem usar cinto de segurança, r em motos, o capacete.
  4. Com crianças de até 6 anos de idade no carro, usar cadeira de segurança própria para elas.
  5. Nunca ultrapassar a velocidade sinalizada nas placas e demais sinalizações.
  6. Sempre para num cruzamento com má visibilidade antes de seguir adiante e certificar-se da segurança dos dois lados.
  7. Ai fazer curva à direita não atrapalhar os veículos que transitam no sentido contrário, e prestar atenção na faixa de segurança após a curva à esquerda.
  8. A faixa de segurança é sempre preferencial para os pedestres;
  9. Ao entardecer acenda os faróis e sempre reduzir a velocidade quando houver pedestres, principalmente crianças e idosos, assim como ciclistas.
  10. Nunca usar o telefone celular enquanto estiver dirigindo. 

 

Colunista

Mario Tokairin

 
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